Associação de Professores
da PUC Goiás
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Mardônio Pereira 

“Tempos Modernos” é um clássico do cinema mundial. A película procura retratar os primórdios da revolução industrial, iniciada na Inglaterra, onde os trabalhadores passaram a ser vistos como meros instrumentos de produção conforme a lógica capitalista que, naquele momento histórico, dava seus primeiros passos. De acordo com a narrativa do filme os trabalhadores das fábricas eram submetidos a uma carga horária de trabalho massacrante, além disso, os movimentos repetitivos, mecânicos e monótonos impostos aos operários levou o protagonista do filme (Carlitos) a um esgotamento nervoso.

 

Percebe-se no filme uma contradição. Por um lado, grandes investimentos em tecnologia e automação visando incrementar a produção para atender mercados consumidores cada vez mais amplos, gerando enormes lucros para os proprietários das fábricas. Do outro lado, o salário que os trabalhadores ganhavam não era suficiente nem mesmo para atender às necessidades básicas como alimentação e moradia, como se percebe claramente no filme. Daí a dura crítica proferida pelo Papa Leão XIII na sua famosa encíclica Rerum Novarum que afirma “os trabalhadores, isolados e sem defesa, têm-se visto, com o decorrer do tempo, entregues à mercê de senhores desumanos e à cobiça duma concorrência desenfreada”. 

Não obstante o fato de estarmos no início do século XXI, o cenário atual se assemelha com aquele retratado pelo filme de Chaplin. Podemos afirmar que as manifestações que estão ocorrendo no Brasil, cada vez com mais frequência e violência, desde junho de 2013 é uma consequência de problemas estruturais que o Estado brasileiro se mostra incapaz de resolver. Entre esses problemas, está a clara consciência, que provoca o ódio da população, de que os nossos administradores públicos estão preocupados apenas em enriquecerem-se às nossas custas. 

Percebe-se claramente que a justiça no Brasil é uma justiça de classe, isto é, as cadeias e penitenciárias estão lotadas de brasileiros pobres de maioria negra que “apodrecem” em celas que não tem nada a invejar aos campos de concentração dos nazistas, enquanto aqueles que se apropriam de dinheiro público, apesar de todas as denúncias a que são submetidos desfilam nos seus carrões e moram em palácios, comprados com o desvio de verbas públicas para a merenda escolar de crianças carentes, em condomínios de luxo.

Já era hora de uma mobilização popular em escala nacional contra esses escândalos. O título mais adequado do filme de Chaplin seria “Tempos atuais de um Brasil que pede justiça”. A força de nosso país não pode estar focada apenas no futebol e no mito de um povo “pacífico e ordeiro” mas na garra de querer mudar e transformar esta nação para o nosso bem e de nossos descendentes.

Mardônio Pereira da Silva é diretor da Apuc, delegado sindical, Mestre em Filosofia e Educação Brasileira e professor do Departamento de Educação da PUC Goiás


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