Neste momento de mobilizações de milhares de brasileiros por todo o país, a coordenadora-geral da Contee, Madalena Guasco Peixoto, enfatiza a legitimidade do movimento das ruas e destaca que, no embate de concepções e ideias, precisamos refirmar nossas pautas e mostrar a importância da política e do fortalecimento das instituições democráticas.
Tenho pelo menos três coisas a dizer sobre as manifestações que tomaram as ruas brasileiras nos últimos dias:
Primeira – são manifestações legítimas. Nós, que lutamos pela democracia e pela liberdade de expressão e de manifestação, não podemos sob qualquer pretexto ser contra. Sua forma e seu conteúdo não são reacionários, em que pese ter concepções reacionárias participando delas.
Vivemos reclamando, no movimento social, sindical e estudantil organizado, das dificuldades de mobilizar as pessoas para irem às ruas reivindicar melhorias nas condições de vida, na luta por direitos, como a educação pública de qualidade e melhores condições de trabalho, plano de carreira, valorização dos profissionais da educação, melhores escolas, contra a financerização da educação superior no Brasil que coloca em risco a nossa soberania e a formação dos jovens brasileiros. Então, os que estão na rua defendendo o fortalecimento da educação pública e da saúde pública, e que estão se manifestando contra a corrupção e também por transporte público de qualidade e subsidiado pelo Estado como um direito, não estão errados; estão certos. São dos nossos.
Segunda – o fato de as manifestações em parte mostrarem a sua discordância com a forma como se faz politica neste país, mesmo que esse jeito de mostrar seja o pior possível – aquele que tem sido construído pela grande mídia e pelas classes dominantes que, espertamente, em cima de fatos , transformam a luta por um outro tipo de fazer político na vulgarização do debate moral e no esvaziamento da ação política, colocando nas mentes, principalmente da juventude, a falsa ideia de que o problema é a política e todos os partidos políticos.
É dessa forma que a classe dominante neutraliza esta força material muito importante e que tem mostrado nas ruas atualmente o seu potencial. Devemos atuar no movimento para mostrar para os jovens que têm essa posição que eles também estão fazendo política e que a política não é problema, é a solução; faz parte do jogo.
Terceira – no movimento social, sindical, estudantil, da juventude, dos aposentados, antirracista, anti-homofóbico etc… sempre houve disputa de ideias e de concepções.
No movimento dos trabalhadores de educação temos os que pensam que deveríamos acabar com os políticos e a política; os que defendem que, na época da ditadura militar, a escola era melhor e os professores mais valorizados, então o problema é a democracia; os que defendem que a escola pública deveria ser paga para que o aluno valorizasse a sua educação; enfim, temos todos os tipos de concepções e de ideias.
Por que no movimento das ruas, que se dá de forma espontânea, isso seria diferente??? Então, assim como no movimento social organizado disputamos ideias e concepções, vamos para as ruas disputar ideias e concepções. Vamos tornar as manifestações uma força material pelo avanço de um projeto popular de desenvolvimento com ampliação da democracia e dos direitos, vamos defender uma reforma política e tributária que taxe as grandes fortunas e que fortaleça o controle social sobre a política e os partidos políticos, vamos mostrar que existe luta de classes e que, aos trabalhadores, interessa o fortalecimento das instituições democráticas.
Vamos à luta!
Madalena Guasco Peixoto
Coordenadora-geral da Contee (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino) e professora da PUC-SP