Associação de Professores
da PUC Goiás
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*Professor Silvio Costa 

Goiás,nos últimos meses, em consequência de fatos revelados pela Operação Monte Carlo, encontra-se frente a significativos abalos envolvendo diferentes lideranças políticas. Isso, sem dúvida, influenciará o processo eleitoral neste ano e em 2014, podendo inclusive alterar a atual correlação de forças entre os blocos políticos. Já em nível nacional, mesmo com alguns descontentamentos secundários, a base de sustentação político-partidária do governo da presidente Dilma encontra-se fortalecido e vai se consolidando.
Nesse contexto, na busca de melhor entender os atuais posicionamentos político-partidários, fundamentais para o exercício da cidadania, é importante conhecer um pouco mais a recente história brasileira, especialmente a goiana, e as metamorfoses ocorridas em decorrência das alianças políticas responsáveis pela acirrada disputa entre os blocos de poder.

Em Goiás, nas últimas décadas, o marco expressivo e ponto de partida a ser destacado nessa metamorfose são as eleições de 1982, que resultaram na ascensão ao poder de um novo bloco político, quando do retorno e restabelecimento das eleições diretas para governador, vencidas por Iris Rezende, do PMDB, que inicia novo período político em Goiás.

Inicialmente, o bloco no poder articulado no PMDB, liderado por Iris Rezende, se posiciona ao lado e como expressão de um amplo leque de forças políticas que se colocavam favoráveis ao fim da ditadura militar e à redemocratização. O bloco articulado no PMDB, que pode ser denominado “irismo”, passa a expressar interesses diversos e ao mesmo tempo, articula uma ampla base de sustentação política, permitindo-lhe eleger sucessivos governadores.

Esse período se estende até 1998, quando as eleições são vencidas por Marconi Perillo, que em seu primeiro mandato, apresenta-se como uma inovação na “vida política” estadual. Denomina-se “Tempo Novo” e aproxima-se de forças políticas de centro-esquerda. Mas, eleito para o segundo mandato, passa a se integrar em nível nacional e a compor abertamente em Goiás, um núcleo conservador e de centro-direita. Em 2006 contribui decisivamente para assegurar a eleição de Alcides Rodrigues, do PP, e se elege senador. Porém, devido principalmente às condições econômico-financeiras em que deixa o Estado, logo após a posse, Alcides rompe com Marconi.

Nas últimas eleições, em 2010, Marconi consegue retornar ao governo estadual e passa a assumir posições de centro-direita. Implementa o ideário neoliberal sob argumentos meritocráticos. Atualmente, seu governo encontra-se envolvido em denúncias associando-o ao esquema de Carlos Cachoeira, conforme revelado pela Operação Monte Carlo. Esse processo e período político constituem o que se poderia denominar “marconismo”.

Nessas décadas e até o momento, na disputa do poder político estadual, as forças de esquerda e centro-esquerda não conseguiram apresentar-se como alternativa real de poder mesmo apresentando acúmulo gradativo de representatividade junto ao eleitorado e ocupando posição com certo destaque: administram a capital, Goiânia, e a principal cidade do Estado, Anápolis.

Na disputa pelo controle do poder político, chama a atenção nos últimos anos a participação de setores do empresariado que alterando o “tradicionalismo político”, passa a se integrar pessoalmente e a desenvolver prática proeminente. Fato que, por si só, não revela a priori alterações significativas.

Nas últimas décadas, essa metamorfose nos permite destacar que foram constituídos, com maior ou menor força, dois blocos de forças políticas distintas. Um, o “irismo”, que demonstra certo esgotamento e tudo indica que não sobreviverá a seu personagem central. Contudo, o PMDB procura renovar-se e ampliar o atual espaço político através de outras lideranças e em aliança com o PT. Outro, o “marconismo”, que não conseguiu fortalecer sua principal base de apoio, o PSDB, e articular em torno de seu líder um grupo coeso e numeroso o suficiente para fazer frente às disputas vindouras, isto porque sua base de apoio político-partidário continua gelatinosa e, atualmente, encontra-se afetada significativamente pelas denúncias provenientes da operação Monte Carlo, o que sem dúvida, produzirá consequências nefastas principalmente para DEM e PSDB.

Nesse contexto, a disputa eleitoral deste ano, e procurando antever possíveis alianças em 2014, nos leva, em saudável especulação, a perguntar: haverá significativa alteração na tradição bipartidária? As forças de esquerda e centro-esquerda conseguirão articular-se de forma suficiente para se apresentar como alternativa real de poder? Marconi será candidato à reeleição, em que condições e com que forças políticas? Iris Rezende insistirá em nova candidatura?

As cartas estão sendo postas e nesse contexto é difícil uma previsão com grande margem de acerto. Mas, em última instância, a decisão caberá aos eleitores.

 

Silvio Costa é professor de Sociologia,Ciência e Teoria Política da PUC Goiás e presidente da Fundação Mauricio Grabois – Seção Goiás 

* Artigo publicado no Jornal O Popular (13/06/2012)


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