Associação de Professores
da PUC Goiás
apuc 40 anos 3

05.04.2020 Semestre Letivo Remoto finalA Associação dos/as Professores/as da PUC Goiás (Apuc) vem a público se manifestar sobre a adoção do Regime Letivo Remoto Extraordinário na PUC Goiás. Compreendemos que a medida se alinha às recomendações de isolamento social, propostas por várias instituições como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Ministério da Saúde, Governos Estaduais e Prefeituras. Tal medida pode impedir o colapso do sistema de saúde e garantir a segurança de da comunidade acadêmica. Contudo, tal isolamento social e a consequente migração em massa de docentes e discentes para o AVA (Ambiente Virtual de Aprendizado) nos impõe inúmeros desafios, neste momento crítico de pandemia viral.

A implementação das aulas virtuais na PUC Goiás, com um curto espaço de tempo para um adequado treinamento de docentes, tem como um dos seus efeitos perversos o estresse e a sobrecarga de trabalho, dadas as exigências de habilidade pedagógica e técnica para lidar com ambientes virtuais, bem como para a rápida adaptação do regime presencial ao virtual. Da noite para o dia, nosso trabalho presencial migrou para o trabalho home office (remoto) sem que houvesse uma discussão prévia com a categoria. A disponibilização de conteúdos na modalidade virtual exige planejamento adequado a esse ambiente e conhecimento técnico de alguns aplicativos, algumas vezes complexos, para a garantia de qualidade acadêmica e equidade nas condições de aprendizagem a todos/as estudantes. Estaremos atentos/as, ouvindo e acompanhando os problemas enfrentados pela categoria principalmente durante este período.

A Apuc ressalta ainda que o acesso às plataformas online exige recursos que, evidentemente, não estão à disposição de todos/as os/as estudantes e docentes. Tal fato, frequentemente reportado por docentes da PUC Goiás, diz respeito principalmente aos/às nossos/as alunos/as que ingressaram através do vestibular social nessa instituição. Parte deles/as não possui computador ou meio adequado de acesso ao AVA, quem dirá acesso à internet. Esse aspecto especialmente perverso da exclusão digital não é um detalhe ou excrecência que, dadas as imensas dificuldades que enfrentamos, deveria ser relegado a um outro momento onde soluções governamentais pudessem solucioná-lo.

A desigualdade socioeconômica, no caso brasileiro, se expressa de múltiplas formas e diferentes intensidades, inclusive quanto ao acesso a equipamentos tecnológicos necessários ao ambiente virtual. A pesquisa TIC Domicílios, realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), divulgada em agosto de 2019, revelou que o número de brasileiros/as que usam a internet é crescente, mas aproximadamente 30% da população ainda não dispõe de meios de acesso à internet. Quais medidas estão sendo adotadas pela Administração Superior da PUC Goiás para a inclusão digital desses/as estudantes que não possuem condições de acesso às nossas aulas virtuais?

Outros tantos problemas nos afligem nesse difícil momento, apesar dos reconhecidos esforços da Administração Superior, como as aulas de laboratório; as defesas de dissertações e teses de mestrado e doutorado; as instabilidades e ou as falhas detectadas nas plataformas virtuais, disponibilizadas pela PUC Goiás; a má qualidade do áudio em nossas salas de aulas virtuais e tantas outras. Estas questões precisam ser esclarecidas pela Administração Superior da PUC Goiás, em diálogo com a comunidade acadêmica e suas entidades representativas. Não temos dúvidas de que o momento é gravíssimo, mas temos a consciência de que é sempre necessário zelar pela qualidade da educação puqueana. Por fim, a Apuc quer se solidarizar com toda a comunidade acadêmica: docentes, discentes, servidores e administração superior e se disponibilizar para ajudar a encontrar e gerir as soluções necessárias para fazer frente a esse difícil momento da história de todos nós.

O momento, portanto, não é apenas de enfrentamento de um vírus novo, altamente contagioso e com um potencial terrível para a saúde pública. Mais do que isso, estamos enfrentamos o coronavírus em uma crise civilizatória. Por este motivo, é tempo de reflexão para aproveitarmos a oportunidade histórica de repensarmos coletivamente, a partir da realidade que se nos impõe, diretrizes para produzirmos juntos um modelo de civilização centrado, de fato e de direito, na dignidade da vida humana, tanto no âmbito da nossa Universidade, quanto na sociedade na qual estamos todos inseridos, sejam nos espaços sócio-político-econômicos sejam nos ambientes virtuais.


BUSCA