O Brasil não atrai seus/suas melhores alunos/as para a carreira docente. A falta de valorização social, salários baixos, desrespeito dos/as próprios/as alunos/as e condições ruins de trabalho acabam afastando aqueles que cogitam escolher ser professor/as. É a conclusão de especialistas que participaram da última mesa do 2º Fórum de Inovação Educativa, promovido pela Folha em parceria com a Fundação Telefônica Vivo e com apoio do movimento Todos Pela Educação, nos dias 24 e 25/05. "Não queremos ficar ricos. O problema é o/a professor/a precisar vender perfume no intervalo, fazer pão e bolo para vender", disse Juçara Vieira, ex-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação. "Temos que conseguir nos dedicar exclusivamente à profissão, podendo viver com dignidade e conforto".
Para Priscila Cruz, fundadora e presidente do Movimento Todos Pela Educação, a sociedade precisa superar a ideia de que professores/as se equiparam a sacerdotes que devem trabalhar por amor. "Professor/as não é padre. Temos que tratá-los como profissionais, com progressão de carreira".
"Dá pra dizer sem medo de errar que o/a professor/a é o principal profissional do país, mas não agimos como se fosse. Todo mundo sabe que ele não é valorizado", disse.
Para José Carlos Rothen, pesquisador da UFSCar, um dos grandes problemas que afetam a qualidade da educação é que os poucos jovens que escolhem a carreira de magistério acabam evitando lecionar na educação básica por conta dos baixos salários, das condições de trabalho e da falta de progressão.
"A carreira só é digna se você puder fazer parte de uma minoria que dá aula em escola de grife ou Universidade. Então a educação só é boa para uma minoria também."
Para o pesquisador, o modelo de descentralização de gestão, que coloca estados e municípios como responsáveis pela educação, precisa ser repensado.
"Um município com 20 mil pessoas não possui infraestrutura para trabalhar a formação docente. Embora a escola seja responsável, ela não pode ser culpada por um sistema falho", disse.
Luciana Caparro, professora da escola municipal Desembargador Amorim Lima, conhecida pelo seu modelo de qualidade de ensino, disse que no momento em que se formou, o/a professor/a trabalhava com "muito pouco, quase nada".
"Era impensável desenvolver algum projeto ou trabalho diferente com os estudantes", continuou. Para ela, o professor precisa encarar as limitações de carreira como um desafio para remontar a realidade de ensino.
Caparro acredita, porém, que esse modelo só pode ser reproduzido em larga escala com um alto investimento para reverter essas limitações.
Fonte: Folha de S. Paulo
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