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Religioso, que completou 95 anos neste mês, denunciou as torturas ocultadas pelos militares durante os anos de chumbo

A ditadura brasileira (1964-1985) é mais lembrada pela cara de seus algozes e menos pelos rostos daqueles que lutaram para livrar o país do autoritarismo e da violência dos militares. Entre eles, está o de dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, que foi o quinto arcebispo da cidade entre os anos 60 e 70 e mais tarde recebeu o título de cardeal. O religioso, que completa 95 anos nesta quarta-feira, 14 de setembro, é conhecido como “o inimigo número um da ditadura brasileira” depois de décadas de luta contra as torturas praticadas nos anos de chumbo e em prol das Diretas Já. Atualmente, vive recluso em um convento em Taboão da Serra, longe da imprensa com a qual contava para denunciar os abusos do regime.

Sua história, contada em dois livros lançados pelo jornalista Ricardo de Carvalho, O Cardeal e o Repórter e O Cardeal da Resistência, chegará em novembro às telas do cinema com a estreia de Coragem – As muitas vidas de dom Paulo Evaristo Arns. Dirigido por Carvalho, o documentário – coproduzido pela Globo Filmes e o primeiro a ser feito sobre o arcebispo – retrata sua resistência ao regime militar, denunciando os crimes praticados nos porões do Exército brasileiro. A estreia está prevista para meados de novembro.

Filho de imigrantes alemães, nascido em 1921, em Forquilhinha (Santa Catarina), dom Paulo foi ordenado sacerdote em 1945 e se formou depois em estudos brasileiros, latinos, gregos e literatura antiga na Sorbonne de Paris. Em 1972, ele criou a Comissão Brasileira Justiça e Paz, que articulou denúncias contra abusos do regime militar. Mais tarde, fundou também o projeto Brasil: Nunca Mais, que reuniu documentos oficiais sobre o uso da tortura durante o regime militar no Brasil. Chegou a ser fichado no Dops (Departamento de Ordem Política e Social) em 1979.

Em 1985, o cardeal criou a Pastoral da Infância com o apoio da irmã Zilda Arns, que morreu no Haiti vítima do forte terremoto que destruiu parte do país, em 2010, realizando trabalhos humanitários. É o mais antigo cardeal da Igreja Católica no mundo inteiro.

Ex-repórter da Folha de S.Paulo, Ricardo Carvalho conheceu dom Paulo em 1976 por conta de sua intensa relação com a imprensa. Relata o diretor: “Ele foi, sem dúvida, a mais importante fonte de informações contra o regime militar. Como jornalista que é, dom Paulo não errava uma e tudo que dizia ou denunciava, vinha com provas, relatos... Foi assim quando o pastor Jaime Wright, ligadíssimo a dom Paulo, me passou, em 1978, a conta-gotas, a primeira lista de desaparecidos políticos checadas em diferentes fontes”.

Fonte: El País


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