Texto dedicado à Dom Antônio Ribeiro de Oliveira, pela sabedoria, serenidade e coerência cristã e publicado no Jornal Opção.
A antropologia nos ensinou coisas interessantes uma delas foi diferenciar o êmico e o ético. Uma análise êmica da realidade é uma análise realizada de dentro para fora. O observador é como se fosse parte desta realidade, não sendo obrigado necessariamente aceitá-la totalmente. A análise ética, é quando o observador enxerga e analisa a mesma realidade de fora para dentro. Há um diferencial marcante entre as duas análises. Na perspectiva êmica, mesmo percebendo as coisas erradas, o observador se veste de um escudo protetor, pensando estar protegendo a coletividade a qual pertence.
Na realidade sua atitude demonstra tão somente a busca de uma proteção pessoal. Já na perspectiva ética, a postura do observador não é a busca da proteção pessoal, mas a busca da proteção da Instituição ou da coletividade. Neste sentido, a presente crônica procura apresentar de forma bem sucinta um dos aspectos que hoje caracteriza não a Instituição, mas, alguns dirigentes (não todos), que compõem a cúpula diretiva da Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
Você sabia que já houve uma época na hoje conhecida Pontifícia Universidade Católica de Goiás, em que as ideias qual água potável correndo livremente sobre a superfície da terra, fluíam pelos cantos e corredores da Universidade. Era uma época em que a Universidade fazia jus a seu nome o “universo dentro da diversidade” e o pluralismo respeitoso das ideias, fazia a antiga UCG, crescer nos conceitos mais altos da educação brasileira. Mesmo assim, naquela época alguns intelectuais que preenchiam os espaços da Universidade estavam sempre criticando ou descontentes com algumas coisas, buscando a perfeição. Aliás, a crítica é algo próprio dos intelectuais.
Mas os novos tempos trouxeram os obstáculos para a crítica consciente, responsável e construtiva. Esses novos tempos estão sendo marcados por uma administração descomprometida com a história da UCG. Implantou-se uma ditadura e uma ruptura com os valores tradicionais da instituição. Hoje aqueles intelectuais devem estar pensando: “Só existe valor na alegria quando a tristeza se implanta de vez. Foi isto que aconteceu com a UCG, tiraram dela tudo que era bonito...”
A ambição, a vaidade e o personalismo derrotaram os ideais bonitos da Universidade, sua missão e os elementos essenciais do Cristianismo, pois substituíram o amor, o diálogo, a competência, o respeito, pelo ódio, pela arrogância e pela ignorância.
Nunca na bonita história desta Universidade as trevas campearam tão soltas pelo ensino e pela pesquisa.
Você sabia que parece existir uma força-tarefa para não deixar circular os boletins da Associação de Professores e do Sindicato dos Professores do Estado de Goiás?
Mesmo no auge da ditadura militar havia mais respeito. Quando uma autoridade não gostava de alguns textos ou os considerava inconvenientes, convocava o autor para um diálogo, depois o comunicava a decisão de liberar ou não tal texto. Hoje, nem isto acontece na PUC, os impressos são recolhidos imediatamente para que alguma semente da contradição não se espalhe entre professores, funcionários e alunos. Portanto, nesta época em que se comemora a fundação da antiga Universidade Católica de Goiás em outubro de 1959, não há nada que comemorar, pois os atuais dirigentes querem apagar a história da UCG, por isso ao invés de se comemorar 56 anos deveria comemorar somente os 13 anos dessa reitoria porque a história era outra.
E, para ilustrar o que aconteceu peço licença à memória de Raul Seixas e reproduzir trechos de sua música Capim Guiné, foi isto o que fizeram ou estão fazendo alguns dos atuais dirigentes da PUC Goiás. Se os reais construtores desta Universidade pudessem se manifestar, certamente em coro, cantariam a mesma música.
Capim Guiné
Raul Seixas / Wilson Aragão
Plantei num sítio no sertão de Piritiba
Dois pé de guataíba, cajú, manga e cajá ...
Peguei na enxada como pega um catingueiro
Fiz aceiro botei fogo, "Vá ver como é que tá"
Tem abacate, genipapo e bananeira
milho verde, macaxeira, como diz no Ceará
cebola, coentro, andú, feijão de corda
vinte porco na engorda, inté um gado no currá!
Com muita raça, fiz tudo aqui sozinho
Nem um pé de passarinho veio a terra semeá
Agora veja, cumpade a safadeza
Começou a marvadeza, todo bicho vem prá cá
Sussuarana só fez perversidade
Pardal foi pra cidade
Piruá minha saqué
Dona raposa só vive na mardade
Me faça a caridade, se vire dê no pé!
Sagui trepado no pé da goiabeira
Sariguê na macaxeira, tem inté tamanduá
Minhas galinhas já num fica mais parada
E o galo de madrugada tem medo de cantar
Num planto capim-guiné ...
pra boi abaná rabo
Professor Altair Sales Barbosa, doutor em Antropologia, pesquisador do CNPq e foi professor na PUC Goiás por 46 anos