Eu, professor Altair Sales Barbosa venho através desta nota, agradecer algumas notícias que foram divulgadas na imprensa sobre minha saída da Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Sei que essas notas foram bem intencionadas e tomei conhecimento delas através da comunicação eletrônica.
Agradeço, porque elas permitiram que eu recebesse centenas de manifestações solidárias de colegas da PUC Goiás, da UFG, várias outras Universidades Brasileiras, como também de alunos, amigos, Sociedade Ambientalista Brasileira do Cerrado, Sociedade de Arqueologia Brasileira e outras Organizações não Governamentais.
“Eu tenho a certeza que a sua saída da PUC Goiás abrirá um caminho muito melhor, para você realizar outros projetos tão lindos e importantes como os que você fez.
Você irá colher os frutos de tudo que plantou ao longo desses anos. Muita luz no seu caminho.
Com admiração e carinho,
Profa. Dra. Rosangela Azevedo Correa
Faculdade de Educação da UnB”.
“Prezado Altair,
A equipe de arqueologia e funcionários do Instituto Anchietano de Pesquisas lamentam profundamente sua saída da PUC-GO e se solidariza com você e sua família. A PUC-GO se priva de um funcionário importante, especialista em Cerrado e um dos seus grandes defensores e promotores.
Temos certeza que seu grande coração inventará outras fronteiras para continuar suas relações com o Cerrado, com a cultura e com a educação no Brasil.
Continuamos solidários!
Prof. Dr. Pedro Ignácio Schmitz SJ
Prof. Dr. Marcus Vinícius Beber
Ivone Verardi
Prof. Dra. Salete Marchioretto
Lic. Denise Schnorr
Ba. Suliano Ferrasso
Ms. Jandir Damo
Prof. Dr. Jairo Henrique Rogge
E os bolsistas do Instituto Anchietano de Pesquisas”.
Aproveito a oportunidade para fazer alguns esclarecimentos:
Não fui demitido da instituição, minha saída foi por vontade própria aproveitando um espaço legal que é o Programa de Demissão Voluntária, existente na PUC Goiás, fruto de acordos assinados com as instituições sindicais.
... Tenho dezenas de cadernos com anotações de campo que precisam ser organizadas para divulgação. Alguns dados precisam ser checados localmente e a atual estrutura da Universidade não mais permite essas ações prolongadas em campo. E, a não organização desses dados pode significar algum prejuízo para a Ciência Brasileira. Também tenho em mente a execução juntamente com alguns amigos e intelectuais, de projetos educativos, alguns dos quais propostos a própria PUC. Tenho fé que essas novas iniciativas irão abrir vários caminhos.
Sou muito grato a hoje denominada Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Quase tudo que consegui na vida foi graças ao apoio desta Instituição. É uma pena porém que algumas pessoas queiram transformar os bosques que na universidade existiam num matagal de espinhos.
Digo “pena” porque nesse exato momento em que o Papa Francisco I exorta na sua Encíclica Louvado Sejas Meu Senhor, para que possamos construir um mundo mais sadio, cujos caminhos perpassam pela educação e respeito ao ser humano, a PUC Goiás parece estar caminhando na contra mão, dos cânticos graciosos de São Francisco de Assis.
No capitulo 6 dessa encíclica o Santo Padre citando Bento XVI diz:
... a degradação da natureza está estreitamente ligada à cultura que molda a convivência humana.
Mais adiante no capitulo 9, citando o patriarca Bartolomeu, comenta:
“Ao mesmo tempo Bartolomeu chamou a atenção para as raízes éticas e espirituais dos problemas ambientais, que nos convidam a encontrar soluções não só na técnica mas também numa mudança do ser humano; caso contrário, estaríamos a enfrentar apenas os sintomas. Propôs-nos passar do consumo ao sacrifício, da avidez à generosidade, do desperdício à capacidade de partilha, numa ascese que “significa aprender a dar, e não simplesmente renunciar. É um modo de amar, de passar pouco a pouco do que eu quero àquilo de que o mundo de Deus precisa. É libertação do medo, da avidez, da dependência”. Além disso nós, cristãos, somos chamados a “aceitar o mundo como sacramento de comunhão, como forma de partilhar com Deus e com o próximo numa escala global. É nossa humilde convicção que o divino e o humano se encontram no menor detalhe da túnica inconsútil da criação de Deus, mesmo no último grão de poeira do nosso planeta”.
Para reforçar o raciocínio que procuro aqui desenvolver, Francisco I, no capitulo 42 nos clama:
“É preciso investir muito mais na pesquisa para se entender melhor o comportamento dos ecossistemas e analisar adequadamente as diferentes variáveis de impacto de qualquer modificação importante do meio ambiente”.
Dentro dessa ótica, quero sair da Universidade como entrei. Amigo de todos os colegas que sempre respeitei e respeito, dentro dos princípios da educação, sem arrogância, prepotência e superioridade. Quero deixar a PUC Goiás com o coração limpo e sem mágoa, como o ouro depois de purificado no crisol.
Aproveito a oportunidade para mencionar que: lendo o Livro dos Provérbios da Bíblia Cristã, aprendi muito sobre as maldades da soberbia.
Nos últimos tempos confesso que sentia falta de uma presença maior do professor Wolmir Amado dentro da Universidade, porque se me ouvisse, talvez entenderia a profecia que lhe fiz através de uma carta escrita. Mas entendo seus compromissos de agenda. Embora, o Papa Francisco I também prega o valor da interiorização, antes da internacionalização:
“É melhor cuidarmos do quintal da nossa casa que apreciar a beleza dos quintais dos outros”.
Gostaria de deixar de forma especial um abraço afetuoso ao Profº Eduardo Rodrigues da Silva - Pró-Reitor de Comunicação, ao Profº José Antonio Lôbo - Pró-Reitor de Saúde, pelo carinho que sempre me dedicaram.
Da mesma forma, deixo meu afeto e agradecimento a todos meus colegas e a todos que se solidarizaram comigo.
Que Nossa Senhora Aparecida vos proteja!
Por fim, deixo para todos como presente, uma reflexão sobre a soberbia.
Diz uma antiga lenda que quando esteve na Terra, Jesus usou seus poderes para conhecer todos os ambientes do planeta.
Chegando ao cerrado, ficou tão impressionado que escolheu esse local para fazer um jardim.
Assim nasceu o Jardim da Humildade. Era lá que Jesus se refugiava para cultivar a sabedoria.
Nesta ocasião um homem chamado João, de boa situação econômica, ao ouvir Jesus pregando ficou impressionado com tanta sabedoria. Foi então que, aproximando-se de Jesus, o convidou para almoçar em sua fazenda.
Ao chegar o dia do almoço, João pediu aos criados que preparassem uma rica e variada refeição, pois iria receber em sua casa um homem muito sábio.
... João, ansioso, não via o tempo passar. Olhava para o horizonte à espera de Jesus, mas Jesus não aparecia.
Certo momento, um pouco depois do tempo combinado, João avista um mendigo vindo em direção à sua casa.
Ao aproximar-se, o mendigo, dirigindo-se a João, pede um pouco de comida. João ordenou aos criados que lhe preparassem um prato e dirigindo-se ao mendigo disse:
- Aqui está sua comida, pode saciar-se. Só lhe peço que assente no toco, ali no canto do quintal, porque hoje estou esperando uma pessoa muito especial para almoçar comigo!
O tempo foi passando e nada de Jesus aparecer. João, angustiado de tanto esperar, perdeu a esperança e ordenou aos criados que atirassem a comida aos porcos, pois seu convidado não mais viria.
Meses depois, indo à cidade, João encontra novamente Jesus pregando ao povo.
Espera a pregação terminar, se aproxima de Jesus e diz:
- Que grande desfeita a sua; eu o convidei para almoçar, fiz um banquete e você não apareceu!
Jesus então lhe falou:
- Eu fui João, e fiquei muito agradecido pela comida. Você ordenou aos criados que me servissem a comida numa vasilha e pediu-me para que me assentasse no canto do seu quintal, alegando que naquele dia iria receber um ilustre convidado...
A lenda ainda ecoa pelos quatro cantos do mundo, sussurrando, pela voz dos ventos, que humildade e sabedoria sempre andam de mãos dadas.
Goiânia, 12 de agosto de 2015.
Um grande abraço,
Professor Altair Sales Barbosa
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Foto: Jornal Opção