Associação de Professores
da PUC Goiás
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12.04.2023 POST Nota da Apuc sobre ameaças de ataquesDiante dos crescentes ataques de violência nos ambientes escolares e das ameaças à PUC Goiás que circularam nas redes sociais na noite dessa terça-feira (11/04), a demora na tomada de providências com o pronunciamento oficial por parte da Administração Superior da PUC Goiás somente após 10 horas desta quarta-feira (12/04) é inadmissível! Outras Instituições de Ensino Superior se posicionaram para coibir ações dessa natureza assim que as informações circularam na internet e até mesmo os Centros Acadêmicos da Universidade alertaram os/as estudantes ainda durante a noite.

De acordo com mapeamento realizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sobre casos de ataques em escolas por alunos/as ou ex-alunos/as, o primeiro episódio foi registrado no País em 2002. O levantamento da Unicamp não contemplou episódios de violência não planejados, que podem ocorrer, por exemplo, em decorrência de uma briga.

Foram listadas 22 ocorrências desde 2002, sendo que em uma ocasião o ataque envolveu duas escolas. Em três episódios, o crime foi cometido em dupla. Ao todo, 30 pessoas morreram, sendo 23 estudantes, cinco professores/as e dois funcionários/as das escolas.

Do total de casos, 13 (mais da metade) estão concentrados somente nos últimos dois anos.

Extremismo de direita
A preocupação com a situação levou o Professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Daniel Cara, a coordenar a criação de um grupo formado por 11 pesquisadores/as de Universidades de diversos estados do País. No final do ano passado, o grupo elaborou um documento analisando o cenário e propondo estratégias concretas para a ação governamental.

Segundo os/as pesquisadores/as, esses casos devem ser classificados como extremismo de direita, pois envolvem cooptação de adolescentes por grupos neonazistas que se apoiam na ideia de supremacia branca e masculina e os estimulam a realizar os ataques. Esses grupos disseminam um discurso que valoriza o preconceito, a discriminação, o uso de força e que encoraja direta e indiretamente atos agressivos e violentos. Para os/as pesquisadores/as, medidas de prevenção só serão eficazes se atuarem sobre esse cenário.

O documento aponta para a necessidade de compreender o processo de cooptação pela extrema-direita que se dá por meio de interações virtuais, em que o adolescente ou jovem é exposto ao conteúdo extremista. Um levantamento realizado pela da ONG Anti-Defamation League (ADL) em 2022 concluiu que o Brasil é o País onde mais cresce o número de grupos de extrema direita. Segundo o estudo, monitorado pela Unicamp nos primeiros meses daquele ano, revelou a existência no Brasil de 530 grupos extremistas. Na PUC Goiás, em 2018, tivemos a manifestação física desse discurso de ódio com uma pichação da suástica com referências ao ex-presidente Jair Bolsonaro em um dos banheiros do Campus V que aterrorizou a comunidade universitária.

Sou da Paz
Um levantamento do Instituto Sou da Paz envolvendo 12 ataques realizados com armas de fogo nas últimas duas décadas demostrou que, em oito ocasiões, o/a agressor/a era estudante da instituição atingida e, em outras quatro, era ex-aluno/a. Frequentemente, o/a autor/a sofreu alguma forma de bullying ou manifestava alguma tendência de ódio.

Dessa forma, é necessário ter cuidado para não sermos sequestrados pelo medo e ódio, e clamarmos por um mundo ainda mais violento e opressor. Transformar instituições de ensino em presídios com escolta armada e os/as Professores/as em agentes de segurança não é a solução. Como também não adianta instalar catracas com reconhecimento facial, se os atentados são praticados por estudantes que estão nas salas de aula. Estudos apontam que ambientes que estimulam a convivência harmônica, democrática e a capacidade do ser humano se colocar no lugar do outro possuem efeito positivo nas relações humanas ao reduzirem o risco de radicalização.

Acreditamos que a Administração Superior da PUC Goiás deve desenvolver uma campanha permanente para que o ambiente acadêmico seja saudável, do ponto de vista físico e mental, com uma diretriz para promoção da Paz. Como fóruns de internet e redes sociais se transformaram em um dos focos de mobilização e radicalização de jovens que promovem discursos de ódio contra mulheres, negros e negras, gays, entre outros, e que se tornam adeptos/as de ideologias extremistas, é importante que a Administração Superior da PUC Goiás abra um canal de escuta para acolhimento das vítimas destes tipos de agressão e faça acompanhamento no sentido de identificar potenciais agressores/as on line para tomar as providências cabíveis, bem como o encaminhamento de assistência adequada para cada caso como forma de prevenir ações violentas na Universidade.

Como educadores/as, devemos nos posicionar na linha de frente do combate à política de disseminação do ódio, do medo e do pânico, discutindo a que e a quem esta política interessa e defendermos a democracia. Nós, da Apuc, nos colocamos, mais uma vez à disposição da Administração Superior da PUC Goiás para dialogarmos no sentido de encontrarmos conjuntamente respostas mais eficazes que o momento exige.

Diretoria da Apuc


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