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14.05.2019 CNBBOs bispos brasileiros parecem ter compreendido a difícil situação que o País passa e tem se posicionado claramente e com força contra uma realidade que, sem nomeá-las, tem como causa as políticas do atual governo. Com palavras proféticas, numa mensagem lançada durante a 57ª assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, eles mostram que a Igreja deve estar ao lado dos pobres, cada vez mais pobres em um País onde "o aumento das desigualdades e a concentração de renda em níveis intoleráveis" é uma realidade cada vez mais evidente.

O comentário é de Luis Miguel Modino Martinez, padre e jornalista e foi publicado no IHU.

No Brasil, cada dia são mais visíveis os "os sinais de morte que ameaçam os filhos e filhas de Deus, especialmente, os mais vulneráveis", o que faz necessária uma atitude clara, como aparece na mensagem, mostrando que ninguém pode servir a dois senhores, Deus e o capital, com quem o atual governo está claramente alinhado, apoiando "um liberalismo exacerbado e perverso, que desidrata o Estado quase ao ponto de eliminá-lo, ignorando as políticas sociais de vital importância para a maioria da população, favorece o aumento das desigualdades e a concentração de renda em níveis intoleráveis".

A nota dos bispos enumera todos os elementos da política seguida pelo governo, que não tem qualquer semelhança com as promessas eleitorais que levaram o povo brasileiro a elegê-lo, um voto que para muitos já é motivo de arrependimento, pois o fim da corrupção, uma das promessas, está longe de se tornar realidade, como mostrado na mensagem, que diz que "a corrupção, classificada pelo Papa Francisco como um “câncer social” profundamente radicada em inúmeras estruturas do país, é uma das causas da pobreza e da exclusão social na medida em que desvia recursos que poderiam se destinar ao investimento na educação, na saúde e na assistência social, caminho de superação da atual crise”.

Diante do desemprego, que está crescendo exponencialmente, atingindo 13 milhões de brasileiros, somados aos 28 milhões de subutilizados, a política do governo "mostra que as medidas tomadas para combatê-lo, até agora, foram ineficazes", algo que é agravado por uma reforma trabalhista aprovada no final de 2018, que não preserva "os direitos dos trabalhadores", afastando-se dos princípios da Doutrina Social da Igreja, o que faz referência ao que o Papa Francisco diz na Evangelii Gaudium.

Tendo em conta que a violência tem crescido a limites inaceitáveis, os bispos lembram "o choro das mães que enterram seus filhos jovens assassinados, das famílias que perdem seus entes queridos e de todas as vítimas de um sistema que instrumentaliza e desumaniza as pessoas, dominadas pela indiferença", que se traduz em "feminicídio, o submundo das prisões e a criminalização daqueles que defendem os direitos humanos". Diante disso, os bispos brasileiros, “reclamam vigorosas ações em favor da vida e da dignidade humana", se mostrando contra "projetos que flexibilizem a posse e o porte de armas", uma das bandeiras do atual governo brasileiro, que pensa que a melhor maneira de combater a violência é mais violência. É por isso que a nota deixa claro que "precisamos ser uma nação de irmãos e irmãs, eliminando qualquer tipo de discriminação, preconceito e ódio".

Um dos grupos mais visados pelo governo, os povos originários, que "não são respeitados em seus direitos e costumes", o que viola os direitos "assegurados na Constituição de 1988", são claramente defendidos pela CNBB, dizendo que "poder político e econômico não pode se sobrepor a esses direitos". Portanto, é inaceitável para o episcopado brasileiro "a mercantilização das terras indígenas e quilombolas (que) nasce do desejo desenfreado de quem ambiciona acumular riquezas", o que se traduz em "atividades de mineradoras e madeireiras quanto o agronegócio", que segundo os bispos "precisam rever seus conceitos de progresso, crescimento e desenvolvimento".

É inaceitável nas políticas do novo governo, "uma economia que coloca o lucro acima da pessoa, que produz exclusão e desigualdade social", porque como o Papa Francisco repetiu muitas vezes, isso "é uma economia que mata". Nesse sentido, a mensagem coloca como exemplo o que aconteceu em Mariana e Brumadinho, onde uma mesma empresa, a Vale SA, tem provocado crimes que causaram centenas de vítimas e graves desastres ambientais, que não têm sido punidos por um governo que sempre deixou claro que está mais preocupado em satisfazer os interesses das grandes empresas do que com o povo brasileiro.

Outra crítica que aparece na nota é dirigida contra a Reforma da Previdência, um dos grandes desejos do atual governo, que está disposto a subornar deputados e senadores para atingir os seus fins, porque "nenhuma reforma será eticamente aceitável se lesar os mais pobres", o que exige das igrejas para ser "autênticas sentinelas do povo", junto com "os movimentos sociais, as organizações populares e demais instituições e grupos comprometidos com a defesa dos direitos humanos e do Estado Democrático de Direito" algo que tenta ser destruído pelo governo, como ficou demonstrado com o recente decreto 9.759/ 2019.

É essencial para os bispos "uma sociedade cujo desenvolvimento promova a democracia, preze conjuntamente a liberdade e a igualdade, respeite as diferenças, incentive a participação dos jovens, valorize os idosos, ame e sirva os pobres e excluídos, acolha os migrantes, promova e defenda a vida em todas as suas formas e expressões, incluído o respeito à natureza, na perspectiva de uma ecologia humana e integral", um parágrafo que concentra as críticas para com uma sociedade cada vez mais polarizada e confrontada, consequência das declarações do governo, que visa a criação de uma sociedade homogênea, que descarta quem não produz e vê na natureza uma despensa para tirar o necessário que garanta o crescimento econômico, mesmo que isso signifique comprometer o futuro do país e do planeta.

Muitos destes aspectos são refletidos nas novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, aprovadas na 57ª Assembleia da CNBB, sendo destacado o processo do Sínodo para a Pan-Amazônia, elementos de particular importância para a Igreja do Brasil, porque são aspectos que podem ajudar "com a construção de uma sociedade desenvolvida, justa e fraterna".


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