Associação de Professores
da PUC Goiás
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Estudo “As preocupações e motivações dos/as professores/as”, da Fundação Manuel Leão, mostra uma classe insatisfeita em Portugal, desmotivada, descontente com o reconhecimento da sociedade. A maioria acredita que a educação piorou e que a indisciplina na sala de aula é a principal dificuldade.

O que preocupa, o que motiva, o que satisfaz e insatisfaz os/as professores/as? A Fundação Manuel Leão aplicou um questionário fechado com 30 perguntas, entre maio e julho do ano passado, e recebeu 2910 respostas válidas de professores/as do pré-escolar ao Secundário, do ensino regular e profissional. “As preocupações e motivações dos professores” é um estudo, coordenado por Joaquim Azevedo, pesquisador da Universidade Católica Portuguesa (Porto, Portugal), que revela como anda a classe docente em Portugal. Ao todo, 64,5% dos professores/as confessam ter uma relação positiva com o trabalho, mas há um número significativo, 32,3%, que afirma estar exausto e desiludido. As professoras estão mais exaustas e desiludidas (35,9%) do que os professores/as (25,2%).

São os/as professores/as do 1.º, 2.º, 3.º ciclos e do Secundário que apresentam valores percentuais mais elevados, entre 32% e 33%, nas opções exaustos e desiludidos, e os que têm mais de 10 anos de serviço, atingindo os 37,4% no caso dos docentes com 31 a 35 anos de docência. E são os/as docentes até aos 10 anos de serviço que têm maiores percentagens de respostas dizendo ter uma relação positiva com o trabalho docente. Um em cada três inquiridos diz estar habitualmente animado na escola e a maioria, ou seja 54,5%, esforça-se para estar animado apesar dos problemas, 4,9% revelam estar desanimados, 4,3% assumem estar cansados com tantos problemas, e 0,9% estão infelizes. Os docentes do ensino particular têm uma relação mais positiva com o trabalho docente, quase 15 pontos percentuais acima dos professores/as do ensino público. 

Quando a pergunta gira em torno da motivação para trabalhar, 68,3% dizem que sim, que se sentem motivados - 41,6% dos quais concordam totalmente ou bastante. Os professores do particular estão mais motivados, 82,1%, do que os colegas do público, 64,7%. E estão mais ou menos satisfeitos do que quando começaram a sua vida profissional? A maioria, 68,1%, está menos satisfeita, 41% dos quais estão mesmo muito insatisfeitos. A insatisfação é ligeiramente maior entre as professoras. E 4,7% estão muito mais satisfeitos, 10,9% mais satisfeitos e 16,1% igualmente satisfeitos. São os docentes do particular que estão muito menos insatisfeitos, com 43,1%, do que os seus colegas do público, 74,6%. “De realçar os 29% de professores do ensino particular que dizem mesmo estar mais ou muito mais satisfeitos do que no início da sua vida profissional, face aos 12,1% dos docentes do ensino público”, lê-se no estudo. 

Mais trabalho, menos reconhecimento 

A opinião é praticamente unânime quanto ao aumento do volume de trabalho: 98,8% dos/as professores/as dizem que agora têm mais trabalho nas mãos. No estudo, 58,4% dos inquiridos dizem que aumentou muito e 36,9% respondem que aumentou. As tarefas burocráticas e administrativas também aumentaram nos últimos anos, com 98,2% dos docentes a destacarem esse aspeto. Mais de 75% dos professores com mais de 20 anos de serviço dizem que essas tarefas aumentaram muito, os docentes com menos de 10 anos de docência, embora reconheçam esse aumento, graduam-no de “forma menos severa”. 

O trabalho aumenta e o reconhecimento diminui: 84,4% dos professores indicam que a sociedade não valoriza a sua atividade. E 85% dos/as professores/as inquiridos garantem que o Ministério da Educação não valoriza o seu trabalho. E os alunos? Aqui as opiniões dividem-se: 51,3% dos professores concordam que os alunos valorizam o seu trabalho, 48,4% dizem que não. E 58,8% consideram que os pais não valorizam o seu trabalho. 

É o reconhecimento de ser bom professor/a que maior satisfação dá a quem ensina: 37,1% destacam este ponto e 36,4% a valorização do seu trabalho. No tempo de serviço, são os professores com menos de 20 anos de trabalho que escolhem mais a valorização, e com mais de 20 anos de serviço a escolha recai em serem reconhecidos como bons professores. O que causa mais insatisfação é precisamente a falta de reconhecimento profissional, com 57%, seguida dos conflitos habituais, com 27,8%. E as melhorias do seu trabalho, a que se devem? Maioritariamente, respondem que é ao próprio esforço, com 73,7% e com 13,4% surge a ajuda dos/as colegas da escola. 

O prestígio da classe docente diminuiu devido à informação veiculada pela comunicação social e aumentou o controlo sobre o trabalho dos/as professores/as, bem como a exigência de prestação pública de contas. É o que pensa a maioria dos docentes inquiridos 80,2% afirmam que a autonomia e poder de decisão diminuíram. O que também diminuiu foi o tempo, bem como as condições para os professores refletirem sobre as suas práticas. 

Indisciplina e falta de respeito

Quais as maiores dificuldades para os/as professores/as? A indisciplina na sala de aula é o principal problema, reúne 51,6% das respostas. A extensão dos programas curriculares aparece a seguir com 30,3%, a mudança das metas curriculares com 9,3%, e o trabalho com os colegas com 4,5%. A indisciplina é escolhida por todos, maioritariamente pelos professores do ensino profissional e das escolas profissionais, com exceção dos professores do 1.º ciclo. A maior dificuldade sentida na atividade docente prende-se com prestar atenção ao desenvolvimento afetivo e social dos alunos, com 30,3% das respostas, seguindo-se os problemas levantados pelas avaliações do desempenho docente, com 24,4% e da avaliação dos alunos, com 19,1%. 

A falta de respeito é o que mais insatisfação causa aos/às professores/as na sua relação com os/as alunos/as: 58,9% colocam-na em primeiro lugar. Não conseguir motivar os/as alunos/as causa insatisfação a 25,5% dos inquiridos, e 7,1% apontam a falta de reconhecimento profissional por parte dos alunos. Na relação com os pais dos alunos, os professores ficam principalmente satisfeitos com a manutenção de relações positivas, com 47% das respostas. A confiança surge em segundo lugar com 31,8%, e o respeito em terceiro com 12,4%. Os/as professores/as do ensino particular valorizam mais que os pais confiem neles (42,4%), claramente acima dos 29% dos/as docentes do ensino público, que preferem, em maior percentagem (13,8%), que os pais e mães dos/as alunos/as os/as respeitem, quando só 7,3% dos/as docentes do particular referem essa opção. E o que causa maior insatisfação é que os pais e mães dos/as alunos/as não se preocupem com a educação dos/as seus/suas filhos/as, com quase três em cada quatro professores/as a elegerem esta opção, e a grande distância em relação à falta de respeito e à resposta “que pensem que sabem tudo sobre o ensino”, com 9,3%. 

E como evoluiu a educação nas últimas décadas? 64% respondem que piorou, entre os quais 17,5% dizem que piorou muito e 39,5% que piorou. Só 1,1% respondem que melhorou muito e 11,8% que melhorou. São sobretudo os docentes do 3.º ciclo e do Secundário, do ensino público, que consideram que a educação piorou. E como encaram as mudanças que se vão anunciando? No geral, 51,8% encaram-nas com uma atitude positiva ou expectante e 47,6% demonstram uma atitude crítica ou descrente de que nada vai mudar. O estudo realça, a propósito, que os professores com mais de 35 anos de serviço são os que dizem, em maior percentagem, que nada vai mudar e que se colocam na posição de ver para crer. E 40% dos/as docentes com menos de três anos de serviço olham para as reformas como uma possibilidade interessante. 

Qual o impacto das reformas na qualidade da educação? Os/as docentes dividem-se nas respostas: 59,1% referem que tiveram algum ou pequeno impacto e 27,1% que tiveram um pequeno ou nenhum impacto. São os/as educadores de infância e os/as professores/as do 1.º ciclo que consideram, em maior percentagem, que as mudanças tiveram algum ou maior impacto. 

Alunos/as mais desmotivados/as 

Comparativamente há uma década, os/as professores/as referem que os/as alunos/as de hoje estão mais desmotivados. Mais de metade, 59,8%, referem que assim é, 22,2% consideram que não são nem melhores nem piores. Há ainda 13,2% que admitem que os/as atuais estudantes têm mais conhecimentos. E quais os principais problemas dos/as alunos/as de hoje? Em primeiro lugar, com 37,4%, surge a desmotivação para o estudo, seguindo-se a falta de apoio da família com 28,2%, e a desorientação, com 10,7%. E enquanto a percentagem da falta de apoio da família vai diminuindo conforme o nível de ensino é mais elevado, aumenta a percentagem de respostas para a desmotivação para os estudos. 

O que é mais importante para o sucesso dos alunos? Neste ponto, destacam-se o trabalho dos/as professores/as na sala de aula, com 42,7%, e a colaboração e o apoio das famílias com 36,2%. O funcionamento da escola, a personalidade do professor, os recursos e os exames não são tão valorizados. Para o ensino melhorar, 44,7% dos professores inquiridos dão importância ao trabalho em equipe. 

Paixão, arte, sacerdócio 

O que é ensinar? Para 24,9%, é uma arte, 22,9% uma profissão, 20,3% uma atividade criativa e 7,6% um sacerdócio. A maioria olha para a profissão como tendo uma forte componente de missão e de atividade criativa. Arte, sacerdócio e atividade criativa somam 52,8% das respostas, enquanto 46,8% veem a docência de forma pragmática e técnica, como um trabalho, profissão ou atividade científica e técnica. E são os professores do ensino particular que mais destacam essa componente e de missão e de atividade criativa do que os docentes do público, numa percentagem de 58,3% para os primeiros e 41,4% para os segundos. 

Há termos associados ao trabalho de ensinar. Paixão surge à cabeça, com 43,4% das respostas, seguindo-se esperança, com 20,8%, afeto, com 18,7%, cansaço, com 8,3%, frustração com 6,5%, e rotina com 2,1%. A maioria dos professores tem uma imagem positiva da profissão, mas, ainda assim, 14,8% referem estar cansados ou frustrados. Por género, são as professoras que encaram o ato de ensinar com mais afeto e menos paixão dos que os professores. E são as professoras que o consideram mais cansativo. Os educadores de infância e os professores do 1.º ciclo e das escolas profissionais mostram uma atitude mais positiva face ao trabalho de ensinar, em contraponto com os docentes do 2.º e 3.º ciclos e Secundário que escolhem, em maior percentagem, os termos menos positivos como cansaço, frustração ou rotina. Os docentes do ensino particular têm uma atitude mais positiva, com 91,1%, contra os 80,8% dos seus colegas do ensino público. 

Porque é professor/as? Mais de metade, 58,3%, responde que é por gosto de ensinar, 25,3% porque permite aprender toda a vida, 7,3% para ganhar a vida. Mais de 90%, ou seja, 91,9%, apontam razões vocacionais para ser professor, só 7,7% por razões instrumentais, para ganhar dinheiro, para ter mais tempo livre ou por ser a profissão dos pais ou de um dos pais. Há mais uma pergunta. O que gostaria de fazer nos próximos cinco anos? Três em cada quatro professores garantem querer continuar a ensinar, embora só 63,4% indiquem que é porque gostam. E 13,5% querem aposentar-se antecipadamente, 8,9% revelam que gostavam de mudar de atividade e 8,1% admitem que não têm outra alternativa a não ser continuar a dar aulas. 

O estudo realça, neste ponto, que “cerca de 25% dos/as docentes dizem desejar não continuar a ter atividade docente, com 13,5% a desejarem mesmo a aposentação antecipada. Verifica-se que um terço dos docentes gostaria de deixar de lecionar”. E verifica-se que são os professores do particular que mais querem continuar na docência, com mais 15 pontos percentuais do que os seus colegas do público, de 86,2% para 71,9%. A maior virtude para os docentes é, sustentam, “preocuparem-se com todos os seus alunos” e “ter boas relações” com quem ensinam. Cerca de 11% dos inquiridos dizem usar metodologias variadas no processo de ensino e só 8,5% reconhecem que a sua maior virtude é gerir bem as aulas.

Fonte: Educare

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