Luiz Eduardo Jorge
Em 1998, um grupo de cineastas e produtores cinematográficos vinculados à Associação Brasileira de Documentaristas – Sessão Goiás, reuniu-se com representantes do Governo do Estado de Goiás para buscar apoio político e financeiro de incentivo para a realização do cinema goiano. Dessa reunião resultou, entre outras medidas, a inclusão de dois prêmios no Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental-FICA destinados à produção cinematográfica goiana.
Como Presidente da ABD à época e mesmo não tendo produção audiovisual de minha autoria inscrito na edição do FICA 2012, incluo-me entre aqueles que estão perplexos com o resultado que exclui os filmes goianos da lista dos selecionados para esta edição do Festival.
Obviamente, não cabe discutir os critérios técnicos utilizados para esta seleção. O júri é soberano. Entretanto, não podemos desconhecer que o parâmetro de “excelência” utilizado para julgamento de qualquer natureza, não é universal e muito menos neutro. Com o cinema não é diferente. O critério de julgamento de uma obra cinematográfica varia conforme a escola de cinema à qual está vinculado quem julga. Não sendo neutro, o resultado apresentado pelo júri do FICA, de um lado chancelou os filmes escolhidos com conceito de “excelência” e, de outro, desqualificou o cinema goiano pelo critério de exclusão.
Portanto, a crítica que faço ao resultado apresentado pelo júri de seleção do FICA 2012 tem natureza política.
É politicamente incorreto excluir a produção goiana de cinema da participação do FICA, porque foi esta mesma produção, consolidada desde João Bênio, Jose Petrillo e Wolf Jesco von Puttkamer que sediaram no Estado de Goiás a produção de seus acervos e com eles fizeram escola, seguidos pelas gerações que os sucederam, que forneceram o lastro cinematográficos que deu origem ao FICA e que sustenta o ambiente cultural necessário para a realização anual deste festival. O cinema goiano foi excluído dele mesmo.
É também politicamente incorreta a decisão do júri porque o cinema goiano já deu mostras de sua “excelência”, comprovada pelos inúmeros prêmios nacionais e internacionais colecionados por seus realizadores. O próprio FICA foi palco destas premiações em todas as suas edições.
O cinema é um campo de conhecimento aplicado, que somente se consolida com a produção, a realização e a divulgação da obra cinematográfica concluída. Qualquer proposta de qualificação desse campo que desconsidere seus realizadores e as condições culturais e financeiras desta realização é mera abstração, mera opinião.
Assim, o reconhecimento da “excelência” do cinema goiano já está reconhecido e registrado pela história. O que se espera dos organizadores do FICA desta edição 2012 e de suas edições subsequentes, é uma atitude ética e de respeito aos que sustentam o cinema goiano com suas ininterruptas produções e que levam o nome do Estado de Goiás nos créditos de todos os filmes premiados e divulgados no Brasil e no exterior.
O que se espera, ainda, desses organizadores do FICA, é que medidas por eles adotadas, não façam desaparecer do cenário politico que envolve a realização cinematográfica, as conquistas já institucionalizadas e que resultaram de uma militância histórica da ABD em prol do cinema goiano.
Desconsiderar os que de fato fizeram e fazem esta história, excluindo-os da participação no FICA, é ofensivo aos brios profissionais daqueles que lutam pela realização do cinema neste Estado e que vem garantindo esta realização, mesmo com todas as medidas adversas, como esta adotada pelos organizadores do FICA 2012.
Goiânia, 19 de maio de 2012
Cineasta; Diretor e Roteirista Cinematográfico; Doutor em Cinema pela USP-ECA; Professor Titular da PUC Goiás.