25.09.2019 Assedio MoralEm função da crise econômica mundial, de acordo com o Portal www. assediomoral.org, que reúne profissionais na área da saúde com o objetivo de identificar e coibir a prática de assédio moral no Brasil, aumentam os relatos de casos e, com isso, também ocorre crescimento de 20% na procura por informações. De acordo com Cármen Sílvia Silveira de Quadros, especialista em Medicina do Trabalho, o fato acontece porque a concorrência é maior e as ameaças são constantes.

Em momentos de crise, a incidência do assédio é maior ? Por quê ?
Cármen Quadros - Sim, porque a crise vem sempre acompanhada por reestruturações que as empresas fazem. A pressão aumenta, as exigências são maiores e as ameaças constantes. Cria-se um verdadeiro clima de medo, terror e sujeição coletiva. O fato de o número de acessos aumentar tem relação a esse sentimento de desamparo, de necessidade de informações. As pessoas têm receios de serem estigmatizadas, de não encontrar um novo emprego. Quando entram em contato conosco querem ajuda, pedem socorro.

O/A trabalhador/a submetido ao assédio moral pode desenvolver doenças?
Cármen Quadros - O assédio moral é um risco à saúde do trabalhador que pode trazer inúmeras consequências, inclusive o adoecimento físico e mental. Trabalhadores/as que sofrem assédio moral sofrem de distúrbios digestivos, taquicardia, palpitações, sintomas depressivos (insônia, crises de choro, lapsos de memória, sentimento de desvalia), hipertensão arterial sistêmica. O assédio tem ligação direta com as mudanças que o processo de globalização econômica impôs ao mundo do trabalho : a flexibilização das relações trabalhistas, a precarização dos vínculos e a reestruturação das empresas que acabam reduzindo os postos de trabalho, sobrecarregando os/as trabalhadores/as e aumentando a concorrência entre eles/as.

Há setores em que a prática do assédio seja mais comum ?
Cármen Quadros - Em primeiro lugar, no Brasil, aparece o setor da saúde, seguido da educação, comunicação e serviços ; em especial bancários. Saliento que em todos os ramos produtivos, categorias e empresas, quer pública ou privada, filantrópicas ou ONGs, existe a prática de assédio moral. Há uma pesquisa nacional que contempla todos os estados e que aponta sinais objetivos do crescimento do assédio moral no País.

Qual é o impacto psicológico para a vítima ?
Cármen Quadros - Os danos psíquicos surgem como angústia e ansiedade. O/A trabalhador/a pode manter e aprofundar pensamentos tristes e repetitivos, apesar do esforço para se curar. A pessoa se avalia negativamente e culpa-se pelo que está sofrendo. Aparecem sinais de alarme do organismo: alterações de comportamento, distúrbios digestivos, dores de cabeça, sensações de dores que migram. Pode chegar à depressão e à síndrome do pânico. Esse processo de instauração da doença varia de indivíduo para indivíduo. Existem casos relatados que o dano psíquico causado pelo assédio moral leva o/a trabalhador/a a um quadro de depressão grave com risco de suicídio.

A empresa perde força de trabalho com esse tipo de prática?
Cármen Quadros - Perde a força de trabalho e, consequentemente, reduz a produtividade em função dos agravos à saúde física e mental dos/as trabalhadores/as. Como ficam doentes, necessitam muitas vezes se afastar para tratamento. Cabe salientar também que atitudes de humilhação e terror psicológico interferem negativamente no ambiente de trabalho, causando desestabilização e desmotivação. Pode acabar resultando em altos custos para a empresa também pelas perdas econômicas em processos produtivos e da imagem pública. Mas o maior prejudicado é o/a trabalhador/a. Há casos em que ele começa a apresentar atitudes irresponsáveis enquanto pai, mãe, esposo/a, irmão/ã, de afastamento e perda de amigos/as, de aumento de consumo de drogas, de separações e até de suicídio.

Quem não é vítima direta do assédio, mas presencia esse tipo de ato com o colega pode sofrer reflexos?
Cármen Quadros - Esta é uma situação que, infelizmente, ainda ocorre e que não ajuda a empresa a se livrar desse tipo de prática. O trabalhador que se cala ante as injustiças e a empresa que se nega a discutir os fatos e a pensar políticas de combate à violência, não estão tomando a melhor conduta. Entretanto, é necessário que a empresa compreenda que ela perde quando o ambiente de trabalho está degradado, quando o clima organizacional.

Quando o/a trabalhador/as se sente vítima de assédio, qual procedimento deve adotar?
Cármen Quadros - Do começo ao fim desse processo, o/a trabalhador/a não deve se isolar, e sim conversar com colegas, amigos/as, família e, se for o caso, procurar apoio psicológico. Ao ser alvo do primeiro ato de agressão, deve ficar mais atento: anotar tudo sobre cada ocorrência, incluindo dia e hora que aconteceu, o que foi dito e quem presenciou. Não fique sozinho/a! Procure a Apuc que iremos orientá-lo/a!


BUSCA